27 de setembro de 2010

A mesma conversa, uma irmã diferente: direito por luva torta

A Maria caminha a passos largos para a quinta dimensão da vida: entrar na faculdade. O senhor meu pai, ao longo do processo de decisão que é escolher o que ser «quando se for grande», foi-me sempre dizendo que teria de fazer uma escolha responsável ou nada mais me restaria senão «vender tecido a metro» (ainda não estávamos na era das Zaras). Queria muito que eu fosse engenheira ou economista. Quando já temia o pior, lá me decidi por um curso «sério», Direito. E eu, nesta engrenagem terrível que é a genética, tentei o mais que consegui que a Catarina também se decidisse por um curso «sério», Direito seria uma maravilha. Fomos tantos a soprar-lhe ao ouvido que a Catarina perdeu um ano em Psicologia. Digo que perdeu um ano porque detestou profundamente aquela «seriedade» toda que lhe impingimos. E lá foi ela para Teatro, porque se há coisa que ela adora são as tábuas, as suas queridas tábuas. Já me tentei fazer passar por Doutora na matéria, e dizer-lhe que a televisão é que é, mas finalmente percebi que ela sabe muito bem o que quer. Melhor que eu. Com maior definição e qualidade de som.
Ora, a história repete-se, anos depois. A Maria, que só sabe desde pequenina que quer ser escritora, mas não há cursos «de se ser escritor», não sabe o que fazer da sua vida. Diz-me que quer ir para Teatro, mas eu acho que é por influência auto-induzida. Ou ir para Londres, estudar Cinema. Mas eu acho que é pela liberdade londrina, por essa até eu me doutorava em Circo! Foi para Ciências, mas escreve como poucas e argumenta com a habilidade dos doutos. O diagnóstico: Direito! Mas só a medo lhe disse que não seria má ideia... aprendi a minha lição: devemos, essencialmente, fazer n(d)a vida o que nos traga felicidade. O que nos permita encarar a segunda-feira com preguiça mas animo. E é muito distinto saber o que queremos fazer na vida, e saber que curso superior queremos tirar. A ordem é esta que indique, porque o curso é um meio, desprovido de sentido se não tivermos pistas sobre o fim.
Disse-lhe isso mesmo. E que o carreirismo jaz morto na modernidade hodierna e na turbulência dos dias. Não somos gente ou mulheres de carreira, que essas fazem as formigas. Somos gente de fazer, não somos mulheres de sofá. Portanto, à Maria disse que o curso era uma vivência única mas a seleccionar com inteligência e abertura de espírito. O que é tramado é que, no fundo ou se calhar mais à superfície, eu acho mesmo que Direito lhe assentava que nem uma luva torta...

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